Para quem deseja criar/improvisar arranjos melódicos em blocos bem bonitos, precisa, antes de qualquer coisa, saber tocar tríades. É engraçado, porque, em minhas andanças dando aulas e workshops, vejo que os tecladistas até sabem escalas e acordes mais avançados, mas não conhecem a tríade efetivamente. 

Antes, uma breve revisão.

Tríade: Acorde de três notas composto de uma nota fundamental sobreposta por terça e quinta. Exemplo: Dó, mi, sol: Tríade maior em Dó (C). Temos quatro qualidades da tríade: Maior, menor, diminuto e aumentado. 

Para encontrar uma tríade maior, a distância entre a primeira e segunda notas, e entre a segunda e a terceira notas são:

4 semitons e 3 semitons.

Para encontrar uma tríade menor, a distância entre a primeira e segunda notas, e entre a segunda e terceira notas são:

3 semitons e 4 semitons.

Para encontrar uma tríade diminuta, a distância entre a primeira e segunda notas, e entre a segunda e terceira notas são:

3 semitons e 3 semitons 

Para encontrar uma tríade aumentada, a distância entre a primeira e segunda notas, e entre a segunda e terceira notas são:

4 semitons e 4 semitons 

Lembre-se de contar os semitons naturais! Mi-Fá e Si-Dó! 

Podemos alterar a ordem das notas, como sol, dó, mi ou mi, dó, sol. A isso dá-se o nome de Inversão. A alteração no som acontece no nível de intervalo, em que na posição sol, dó, mi, não temos mais uma terça da primeira para a segunda nota, mas uma quarta justa;  e não mais uma quinta da primeira para a terceira nota, mas uma sexta maior. Essa mudança de intervalo modifica o caráter funcional do acorde, como descrito no livro "Harmonia", de Arnold Schoeberg. Mas aí, o assunto ficou complicado demais.   

Realidade e Prática

Geralmente, os tecladistas "viciam" em uma ou outra inversão de uma tríade específica, por exemplo: "F#m, sempre toco na segunda inversão. O problema disso é o pulão de um acorde para outro, perdendo qualidade de condução de vozes. E, se eles tocam outras inversões de uma mesma tríade, sempre fica a dúvida: "Qual inversão eu toco?"

A dica é: Escolha notas da melodia que sejam mais importantes, como aquelas que caem nos tempos fortes do compasso, e coloque na ponta (na extrema direita) da tríade. Muito frequentemente, as notas da melodia coincidem com alguma das três notas do acorde no acompanhamento. 

Exemplo: 

Son da- me, Se nhor e   me co  nhe ces
sol  dó   dó    ré  ré   dó  fá  mi  ré   dó

Vamos escolher Dó, Ré, Mi, que vão cair nos primeiro, terceiro e primeiro tempos dos dois primeiros compassos. Os acordes são | C G/B | Am |

Então, a melhor opção, seria tocar o acorde de Dó maior com a nota dó na ponta (no dedo mínimo); o acorde de Sol maior com a nota ré na ponta; o acorde de Lá menor com a nota mi na ponta. Assim, você tem um resultado muito bom de condução de vozes (menor movimento as notas dos acordes, sem dar os saltos). 

Bem, pra executar essa simples técnica, você precisa de duas coisas: Um ouvido bem treinado para saber (de ouvido) quais são as notas da melodia e saber tocar e inverter tudo que é tríade. Deixando o assunto do treinamento auditivo para outra feita, vamos falar sobre como adquirir estas tríades. 

Plano de Treino de Tríades

Treine as quatro qualidades de tríades (maior, menor, diminuta e aumentada) com as duas mãos, usando tanto acorde na mão direita e baixo na esquerda, quanto acordes nas duas mãos.

Vamos tocar todas as tríades em todos os tons no círculo das quintas ascendente e descendente (se você acha que é exercício demais, dê preferência ao círculo das quintas descendentes). Use o metrônomo no seu limite. O objetivo é fazer um acorde por tempo, a 120 bpm.

A melhor forma de fazer este exercício, é sempre visualizar e tocar a nota que dá nome ao acorde primeiro, para depois completar com as outras duas notas (a terça e a quinta). Quando o acorde está na posição fundamental, a nota que dá nome ao acorde (também chamada 'fundamental') está sempre no polegar (mão direita).

Quando o acorde está na primeira inversão, a nota que dá nome ao acorde (também chamada 'fundamental') está sempre no dedo mínimo (mão direita). 

Quando o acorde está na segunda inversão, a nota que dá nome ao acorde (também chamada 'fundamental') está sempre no dedo médio (mão direita).

Exercícios. Toque todas as tríades, uma qualidade por vez, no círculo das quintas: 

Exe. 1.a – Na posição fundamental.

Exe. 1.b – Na primeira inversão.

Exe. 1.c – Na segunda inversão.

Exe. 2.a – Invertendo dentro do espaço entre Dó 3 a Si 3. Não pode sair deste espaço. 

Exe. 2.b – Invertendo dentro do espaço entre Mi 3 a Ré# 4. Não pode sair deste espaço.

Exe. 2.c – Invertendo dentro do espaço entre Sol 3 a Fá# 4. Não pode sair deste espaço.

Agora, toque as tríades na escala cromática

(dó, dó#, ré, ré#, mi, fá, fá#, sol, sol#, lá, lá# e si): 

Exe. 3.a – Em Escala Cromática, posição fundamental.

Exe. 3.b - Em Escala Cromática, primeira inversão.

Exe. 3.c - Em Escala Cromática, segunda inversão.

Exe. 4.a – Invertendo dentro do espaço entre Dó 3 a Si 3. Não pode sair deste espaço. 

Exe. 4.b – Invertendo dentro do espaço entre Mi 3 a Ré# 4. Não pode sair deste espaço.

Exe. 4.c – Invertendo dentro do espaço entre Sol 3 a Fá# 4. Não pode sair deste espaço.

Por último, toque suas melodias em blocos de tríades.

Com este exercício, em pouco tempo, você sentirá que tem mais controle dos seus acordes e estará lançando importante pedra fundamental para acordes mais avançados. Fique ligado para mais dicas sobre acordes.