Para se tornar um músico profissional
O que é preciso para se tornar um músico profissional?

Muita gente me fala "Ah, meu sonho é ser músico profissional" com ar de sonho distante. Bem, muito se fala em 'profissional' e 'amador', atribuindo qualidade a cada um, mais ou menos assim: Músico profissional é bom, amador é ruim. Dê uma olhada no dicionário. Eu tenho aqui o Grande Dicionário Unificado da Língua Portuguesa, da editora DCL. Olha só o que diz aqui:
Pro.fis.são s.f. 1. Ato ou efeito de professar. 2. Declaração ou confissão pública 3. Ato solene com que alguém se obriga a uma ordem religiosa, estado ou condição social. 4. Modo de vida. 5. Emprego, ofício, ocupação.
Ainda,
Pro.fis.sio.nal adj. 2g 1. Relativo a certa profissão. subs. 2g 2. Pessoa que faz uma coisa por ofício.
Bem, segundo o dicionário, se um músico é profissional, isto significa que ele toca/canta/ensina porque este é o ofício dele. Não há referência a isto no dicionário, mas infere-se que se alguém faz algo por profissão, espera-se que ele tenha qualificação além de muitas horas de exercício no ofício, visto que passamos a maior parte de nossas vidas trabalhando (8h/dia?). Se quanto mais exercitamos uma função, melhor ficamos, podemos concluir que o profissional é o melhor que pode haver, certo? Será mesmo? Um amador não pode ter a mesma ou melhor qualidade de um profissional?
E o que é amador? Voltemos ao pai dos inteligentes, o dicionário:
A.ma.dor adj. 1. Que ama. 2. Que é feito por amador. adj e s. m. 3. Amante, namorado. 4. Diz-se de, ou aquele que gosta muito de uma coisa. 5. Diz-se de, ou aquele que cultiva uma arte ou esporte por mero prazer, sem fazer disso um meio de vida; entusiasta, aficionado. *Opõe-se a profissional.
e
A.ma.do.ris.mo s.m. 1. Categoria, condição daquele que pratica uma arte ou esporte na condição de amador. 2. Regime ou prática oposta ao profissionalismo. 3. PEJ. Falta de técnica adequada à realização de um trabalho. *Opõe-se a profissionalismo.
Recentemente assisti com meus pequenos o filme Sing - Quem canta seus males espanta, ao qual demos muitas risadas. Mas ele mostra uma realidade: Para conquistar o direito de ir ao palco, não basta o talento nato. É preciso algo mais. Todos os personagens do filme são talentosíssimos, mas precisaram de algo mais.
Bem, vamos começar a amarrar as ideias. Pense como funciona o relacionamento conjugal: Você conhece uma pessoa, se apaixona e começa um namoro. Neste momento, você vira um 'Amador' daquele ser humano. Tem gente que namora às escondidas. Tem gente que namora 10 anos, outros, 10 meses. Aí celebra-se uma grande e pomposa cerimônia de casamento, e o momento mais importante é o "SIM, eu aceito". Aceito estar com ele/ela nos momentos alegres e tristes, mesmo estando doente, pobre, feia/feio, chato/chata, etc. Você faz um voto perante Deus e os humanos de que agora virou profissão (veja os item 1, 2 e 3 da entrada "Profissão" do dicionário). Quando é apenas namoro, o compromisso é sério (ou não) mas não tanto (ou não). Depois do casamento, o relacionamento fica mais complicado e mais custoso. Você vai ter que se desdobrar para se relacionar de forma saudável. Vai ter que passar momentos difíceis e melhorar muito sua técnica e inteligência interpessoal para manter o voto. Muitos preferem se divorciar e dizem 'melhor só que mal acompanhado'. Os que ficam casados dizem que é melhor estar casado que solteiro. O que quero iluminar aqui é a questão da passagem de namorado (amador) para casado (profissional).
Você pode achar que a comparação é análoga e não homóloga. Mas isso não vem ao caso. A questão é que quando um músico professa seu ofício, as coisas mudam muito. Mais lhe é exigido: Mais técnica, mais cuidado, melhor instrumento, melhor e mais relacionamento, mais pontualidade, mais atenção/concentração, mais repertório, melhor vestuário, mais conhecimento musical, mais humildade, mais compromisso, melhor postura, mais resistência (porque às vezes, você toca mais de três horas) mais organização, mais preparo, em suma: mais 'profissionalismo'.
É bom demais ser amador: Você faz porque gosta, sem precisar ter muito compromisso, nem lhe ser muito exigido. A essência de uma amador é, em muitos dos casos, muito forte. Ele é bom e tem um grande potencial para chegar a ser um profissional de sucesso.
Ser profissional envolve, por exemplo, chegar no horário certo, saber tocar as músicas como se espera (igual no CD) ser gentil, humilde e servo.
Um paradigma precisa mudar na mente daqueles que desejam ser profissionais: Quando você professar-se Músico, não haverá uma mudança mágica em que você passará a ser um expert da música do dia para a noite. O que vai acontecer é o seguinte: Você passará a ter desafios que o levarão ao próximo nível. Fará cursos e mais cursos e se comprometerá a estudar seu instrumento com afinco e dedicação. Superará as barreiras da época de amador, e terá a disciplina e moderação e a sabedoria para tocar exatamente como é requerido. Terá que investir em um instrumento decente.
Para se tornar um profissional basta professar sê-lo e demonstrar sê-lo. O mais importante de tudo é ter atitude de profissional e estudar muito, muito mesmo.
Mais importante ainda é fazer o que mais gosta. Se você não gosta de música, então não queira ser um profissional. Se você gosta de música mais que tudo, não queira ser apenas um amador.
Posso dizer, após muitos anos trabalhando na área, que não trocaria minha profissão por nenhuma outra no mundo.
Foto: Bonna Moraes. Lançamento do DVD Ivan Rosa Instrumental
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